Sexta, 05 de Outubro de 2012
“Ser caiçara é hoje um grande desafio que envolve encontrar formas sustentáveis de garantir a continuidade e valorização da cultura em nossos territórios, áreas cobiçadas pela especulação imobiliária ou protegidas integralmente pelas Áreas de Conservação Ambiental; mas é também uma grande inspiração para a humanidade, um exemplo de modo de vida sustentável, cooperativo e de convivência harmônica com o ambiente”.
O trecho acima, sobre a cultura caiçara, é bonito, por um lado, mas também preocupante (e parte de um retrato triste da perda de identidades culturais no Brasil por questões políticas e econômicas diversas).
O texto faz parte da apresentação do projeto de construção do Centro de Cultura Caiçara na Barra do Ribeira, no município de Iguape, em SP. A obra, feita em mutirões pelos próprios moradores da região, já está quase na fase final. Para chegar lá, a comunidade busca financiamento no site Catarse , no qual qualquer pessoa pode financiar projetos como este, com valores a partir de R$20.
O projeto é encabeçado pela Associação de Jovens da Juréia (AJJ), grupo criado com o propósito de manter e difundir as tradições caiçaras – cultura que sofreu grande impacto na região com a criação da Estação Ecológica da Jureia-Itatins, na década de 80.
Um pouco da história
Quando a Estação foi criada, cerca de 400 famílias viviam dentro dos seus limites. “Essas comunidades acumularam com o passar do tempo um grande aparato de conhecimento que reflete uma cultura extremamente rica que ainda hoje pode ser vista nas manifestações religiosas, na dança (fandango), no amplo conhecimento sobre o uso de plantas medicinais e no modo sustentável de utilização dos recursos naturais”, explica a Associação.
“Tudo isso foi completamente ignorado pelo governo do estado de São Paulo, que proibiu todas as atividades de subsistência dessas comunidades, obrigando as famílias caiçaras a irem embora de suas casas apenas com a roupa do corpo, selando o destino de muitas pessoas a viver nas periferias das cidades do entorno da Estação”.
A Barra do Ribeira foi o destino de algumas dessas famílias. Foi lá que, em 1993, um grupo de jovens caiçaras criou a AJJ. O objetivo é “lutar pelo direito de permanência das comunidades na Juréia, gerar renda por meio do artesanato e resgatar e manter viva a cultura caiçara”.
As obras
A construção de uma sede para o Centro de Cultura Caiçara na Barra do Ribeira é a materialização do esforço e dos sonhos desses jovens e da comunidade. A ideia, em resumo, é “criar um polo de vivência e difusão da cultura caiçara para escolas, comunidades locais e visitantes”.
A infraestrutura do novo espaço proporcionará o desenvolvimento cada vez mais ativo e vigoroso das atividades de valorização da cultura na região. A AJJ explica que a nova sede terá criação de peças feitas com a madeira da caixeta (árvore nativa da Mata Atlântica) utilizando técnicas locais de artesanato, venda de produtos, turismo de base comunitária, oficinas de educação ambiental, cultura caiçara e tecnologia, espaço multimídia, bailes e festas tradicionais, desenvolvimento de projetos para a região. Além de ser um importante espaço para reuniões que irão estruturar a participação da comunidade nos diferentes grupos e fóruns nacionais na luta pelo direito ao território das comunidades caiçaras da Estação Ecológica.
Quer conhecer mais e ser um dos financiadores? Entre aqui . A Associação também produziu um vídeo sobre o projeto que pode ser visto no link.
Fonte: Lydia Cintra/Superinteressante
Esse site é um registro passivo da memória do Convênio Diálogo para a Sustentabilidade que reuniu Petrobras, ReaLNorte e Universidade Católica de Santos e aconteceu de 2008 a 2012.