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Projeto Juçara recupera floresta e gera renda para comunidades

Domingo, 07 de Outubro de 2012

Espécie ameaçada de extinção pelo seu corte indiscriminado para a obtenção de palmito, a palmeira Juçara, planta nativa da floresta da Mata Atlântica, está sendo alvo de vários projetos para sua preservação, replantio e aproveitamento sustentável de seus frutos (os coquinhos). Do processamento dos frutos da juçara se obtém uma polpa saborosa e nutritiva, utilizada em bolos, sucos, manjares, sorvetes etc. As iniciativas estão se desenvolvendo em vários municípios do litoral paulista, em regiões limítrofes ou mesmo em áreas pertencentes ao Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), envolvendo comunidades locais, organizações não-governamentais e governos.

Entre essas iniciativas, destaca-se o Projeto Juçara, desenvolvido pelo Instituto de Permacultura da Mata Atlântica – Ipema, em parceria com diversas organizações sociais, incluindo comunidades remanescentes de quilombos e caiçaras, a Prefeitura de Ubatuba, a Fundação Florestal, entre outros, com patrocínio da Petrobrás. O projeto do Ipema se baseia em uma solução sustentável que simultaneamente trabalha a recuperação da espécie, gera renda para as comunidades locais e estimula a preservação da natureza, por meio de atividades de educação ambiental, como cursos, oficinas e festas típicas.

O projeto envolve cerca de 50 famílias em três municípios, Ubatuba, São Luís do Paraitinga e Natividade da Serra. Em Ubatuba, são 10 famílias na área de Ubatumirim, e outras 10 famílias nos quilombos de Cambury e Fazenda. “Difundimos junto às comunidades locais propostas sobre o processo produtivo da polpa de juçara de forma sustentável e o manejo sustentável da floresta e agroflorestas”, explica Lenina Mariano Salimbeni, coordenadora de comunicação do projeto.

Com a finalidade de recuperar uma espécie vital para a floresta na Mata Atlântica, o projeto capacita as comunidades no manejo sustentável da espécie, oferece uma alternativa ao corte (e derrubada) da planta para retirada do palmito (com a retirada apenas dos frutos, a palmeira permanece em pé e pode produzir durante décadas), possibilita a geração de renda e portanto contribui para a permanência dessas famílias na terra e valoriza sempre o trabalho das comunidades na preservação da juçara.

Desde 2005, o projeto conseguiu recuperar 200 hectares de floresta, plantar 36 mil mudas e implantar duas unidades de beneficiamento (uma em Ubatumirim e outra em Natividade da Serra) que produziram 9,5 toneladas de polpa de juçara. “É um trabalho gostoso de fazer e que ajuda bastante a gente com uma renda. E também é um incentivo para as crianças que estão na roça conservarem a natureza”, afirma Dalva Aparecida dos Santos, 54 anos, que beneficiou 400 quilos de polpa de Juçara este ano, o que lhe rendeu cerca de R$ 2 mil reais, que a ajudou a comprar um freezer. Há três anos participando do projeto, Dalva tem oito filhos, mora no sertão de Ubatumirim, em Ubatuba, próximo à divisa externa do PESM. Vendeu sua produção de polpa na feira do centro de Ubatuba e para empórios da cidade. Segundo Dalva, parte dos “coquinhos” (frutos da juçara), ela colhe no quintal dela. “Já eram plantas que estavam aqui. Demora de sete a oito anos para a juçara dar fruto, mas o pessoal está plantando mudas e sementes que vai ajudar no futuro”, explica.

Segurança alimentar

O projeto vem sendo bem-sucedido também em acrescentar um alimento riquíssimo à dieta das comunidades, conseguindo inclusive introduzir um novo alimento na merenda escolar do município de Ubatuba. Até o final de 2012, produtores vinculados ao projeto entregarão duas toneladas de polpa da juçara à prefeitura. “É uma grande conquista porque beneficia os dois lados dessa “cadeia”, gerando renda e garantindo alimento de qualidade para as crianças”, conta Lenina.

Até pouco tempo atrás, a polpa da juçara não fazia parte da culinária local. “Agora fazemos quase todo dia suco, bolo, manjar com a juçara”, conta a agricultora. Em outubro, Dalva participou de um curso, no âmbito do projeto, que a ensinou a fazer sabonete (esfoliante) com a polpa de Juçara. “Vou fazer mais para a gente usar. Se der a gente vende também”, explica.

Educação Ambiental

Os efeitos do projeto, com relação à educação ambiental, observados junto às comunidades, incluem mais conhecimento sobre a espécie, a disseminação de práticas adequadas para o manejo da juçara nas áreas de plantio e na floresta (parte do plantio aconteceu nas áreas das Unidades de Conservação – Núcleos Picinguaba e Santa Virgínia do PESM), manejo adequado durante a despolpa, segundo orientações da Vigilância Sanitária em curso oferecido através do projeto. E também a organização das comunidades durante para a realização das Festas da Juçara. “Já realizamos quatro dessas festas que, além de divulgar os produtos, gerar renda, contribui para a preservação da cultura, pois sua programação inclui apresentações musicais e danças locais”, conta a coordenadora. Também são apresentadas nos diversos cursos que o Ipema oferece noções relacionadas à permacultura (culturas permanentes e sustentáveis) e a habitações sustentáveis.

Segundo a coordenadora, o Ipema pode fazer projetos e dar consultorias se eventualmente houver interessados. “Os maiores desafios do projeto são obter recursos e manter os vínculos com as comunidades, que devem ser reforçados constantemente”. Segundo Dalva, muitas pessoas da comunidade, principalmente os mais velhos, relutam em participar: “Eles duvidam um pouco que o projeto é bom para nós. Alguns não querem nem conhecer”. Agora, com os resultados dos projetos aparecendo, o interesse pode aumentar. De acordo com Dalva, com o replantio da palmeira na região até os pássaros estão menos irritados porque sobram mais alimentos para eles (e para outros animais e aves). “Nós descobrimos que se a gente só destruir e destruir, acaba tudo. Isso serve principalmente para as gerações mais novas, as crianças. Aqui na região, elas sabem mais disso do que os mais velhos”, explica.

 Conheça mais sobre o projeto no site: http://www.projetojucara.org.br

 Programa Juçara (Resultados desde 2005)

  • 200 hectares de floresta recuperada
  • 2 unidades de beneficiamento implantadas, uma no  Sertão do Ubatumirim e outra em Vargem Grande, município de Natividade da Serra
  • 18 toneladas de frutos colhidas
  • 9,5 toneladas de polpa de juçara produzidas
  • 10,5 toneladas de sementes produzidas
  • 36 mil mudas plantadas

 Fonte: Ipema/10-2012/ Por Luiz Gonzaga, colaborador Litoral Sustentável/Projeto Litoral Sustentável














Convênio




Esse site é um registro passivo da memória do Convênio Diálogo para a Sustentabilidade que reuniu Petrobras, ReaLNorte e Universidade Católica de Santos e aconteceu de 2008 a 2012.